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Aninha o sitio e o inexplicavel (contos)

Jameson Brandão



Aninha tem cinco anos. Vive intensamente as pegadas e castelos de areia na praia, vive intensamente as corridas e carreiras, e ainda o melhor, usar o batom da mãe a se lambuzar toda como se fosse manteiga, usa os sapatos gigantes enquanto sua mãe repousa depois do trabalho, na escola, um amor de criança, corre e brinca de pique esconde, a merenda é uma festa e melhor, quando sua mãe mesmo ocupadíssima e vem lhe buscar na escola, não tem melhor festa, os professores elogiam, se despedem calorosamente, hoje é sexta feira.        
Aninha vai a fazenda de seu avô, irá se divertir muito, vai poder andar nos cavalos, tentar pegar um peixe na lagoa, trepar em umbuzeiros e mangueiras, fazer comidinhas de terra com a priminha Ana Julia, elas não se conhecem, mas será divertido.
Sua mãe Tereza entra no carro, coloca a Aninha no banco de trais com a cadeirinha, e ali então quando o carro da à partida, bem, agora Aninha tem espaço pra conversar tudo com sua mãe, uma confidencialidade com a mãe surpreendente. A escola é um anto de surpresas.

Em casa, até parecia gente grande, mandava na mãe e dizia o que ia levar, por Aninha só levava as bonecas e comprava as roupas tudo novas, sua mãe como sempre, ensina e orienta chama pra mais perto, abraça, cheira e beija por alguns minutos e o chão ecoa uns estalos, parecia encanação furada no prédio. Malas organizadas, documentação, merenda, parece tudo pronto. Tereza resolveu ir de ônibus, foram para rodoviária, Aninha está com um vestido rosa com flores de margaridas na estampa, sua mãe, um vestido social, as malas vão combinando, e pulam de alegria, passagens compradas, entram no ônibus, a pequena criança muito vaidosa chama atenção, está inquieta, apesar de não ser novidade. Sua mãe vai lendo um livro na viagem, já sua filha a todo o momento levanta e vai de poltrona em poltrona, gosta mesmo de conversar, um homem, cabelos brancos, chama a pequena para mais perto, ela vai sem pensar duas vezes. Sua mãe percebe a demora, e a chama em voz alta para que a escutasse, ela vem, agora está quieta em sua poltrona com sua pequena boneca de companhia. Chegaram, descem e observam, o pai de Tereza o aguardaria na rodoviária, esperam um tempinho e ele chega.
Na fazenda, pássaros cantam. Bonito é o canto do Sofré, alegre e exuberante, cheio de vida cor cintilante. A viagem foi longa agora são 12h15min, horário do almoço, a mesa um banquete com uma variedade imensa de víveres, Aninha está muito calada, sua mãe vai tomar um banho no quarto onde viveu na infância, ela fica e senta-se na poltrona da varanda com sua amiguinha a boneca. Existem poucas pessoas que moram na fazenda, o seu avô, o caseiro e sua filha de oito anos Ana Julia, sua mãe desapareceu depois de bramidos e carpir-se em uma noite chuvosa. Ela é mais uma criança que vive em silencio.
Todos se reúnem a mesa, todos, menos Aninha, pois ela está cansada e foi deitar-se. Em traços de conversas, Tereza brada contra seu pai como se o céu caísse e as rochas virassem pó, sua filha é o motivo.
Ana e Aninha brincam em um cômodo distante da fazenda, meio sombrio, mesma indisposta a sua prima a convenceu. E elas foram.
A tarde parece interminável para Ana, para Aninha mais ainda, as duas olham ao seu redor e só veem concreto, grades e uma deixa de luz por uma rachadura na parede. Hoje, o dia está nublado, o céu está cada vez mais escuro e Ana sabe bem o que isso quer dizer, seus medos e pesadelos estão a cada vento gelado mais perto, Aninha que irá ter sonos inquietantes, agora é só ela e o lindo vestidinho de margaridas. O ranger da porta pode parecer liberdade, mas quem adentra naquele lugar de baixa beleza é ele, desespero para as duas, as roupas deles pareciam está pedindo costuras, mas, agora já ao cair da noite o frio chega, mas o fogo não é mais necessário.
Hoje é sábado, Tereza vai ao canto da fazenda onde as quedas d’águas são alegria para os olhos e como sentimentos para um coração vazio e angustiado. Ela sobe em uma parte donde as águas correm mais fortes e as rochas são mais altas, senta-se a ponta da pedra. Pensa.  Seu rosto não reflete, mas a alegria de quando estava com sua filha, mãe é mãe em vida e em morte, os laços serão eternos. O rio que carrega os dejetos que o digam, mesmo no remorso, as águas agitam como se fossem em alto mar.
Hoje é domingo, o rio acalmou-se, e as estradas não evitam o transito da atualidade, não existe reflexo. A fazenda está abandonada, os pássaros estão mudos e o Sofré sofre sozinho ao espelho dos olhos a casa. São quase doze horas, e o sol está morrendo.

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