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Jardim da Saudade (contos)

                                            Jameson Brandão



Depois de um longo dia de trabalho, um acesso as redes sociais, coloca as conversas em dia, comenta, compartilha, abre os e-mails e responde as conversas atrasadas que durante o serviço não pôde responder. Bom, agora tomar banho, depois um café, assistir televisão e quem sabe ver alguma noticia interessante. Mas o que a TV mostra está chato, o sono sopra e abraça quentinho no sofá, quando percebe que está cochilando, retira os óculos, nesse instante sua amiga desde os tempos da faculdade lhe liga, precisando vê-la urgente, precisa de um consolo, brigou com o namorado, que queria força-la a algo que ela só queria depois do casamento. Então se retira o carro da garagem, espalma o sono para o horizonte. A avenida está muito movimentada, ainda é horário de pico em Salvador, logo nos primeiros quinze minutos de viagem encontra um breve engarrafamento, parece que alguém estava em alta velocidade num Gol prata, carro até conhecido pra ela, mas bem, mesmo devagar o transito continua fluindo, assim ela foi, atrasou-se por mais cinquenta minutos, mas conseguiu chegar mesmo com demora, estranha uma movimentação de pessoas com fardas azuis, vermelha do lado de fora do prédio, ela não entende. Depois de sirenes e muitas lâmpadas e seus brilhos ao escurecer os olhos, entra no prédio, uns carros que pareciam um baú foram logo embora, os outros o seguiram, o porteiro do condomínio sumiu, mas ela entrou mesmo assim, as coisas voltaram ao normal, caminhou até o elevador, apertou o botão para entrar, aguardou uns instantes abriu-se a porta, ela entrou. Chegou, tinha uma chave, pois sua amiga deu-lhe por confiança, foi em direção à porta, colocou a chave na fechadura, a porta range, ela entra e...

Hoje o dia está lindo, muita gente com flores, só não se vê alegria, mas está lindo. Rosas brancas, vermelhas e rosas, violetas, flores de lírios, margaridas e jasmins, daquelas que parecem cheirar como jambo, e que deixam a boca transbordar correntes de agua pura. Essa beleza toda parece às ruas em dias de finados, muitas belezas nas avenidas, mas, vazio no peito, são sete da manhã, muita gente indo ao trabalho, outros se preparando, muitos até já chegaram, mas ela a Fabiana, hoje não pode acordar cedo para ir trabalhar, sua amiga Juliana que mora no condomínio a alguns quilômetros dali precisou dela e ela foi ajudar, são amigas, servem pra isso.
Isso é inesperado, Fabiana está com as lentes oculares trincados, não sei bem ao certo o que houve, mas espero que esteja bem. Algo vermelho cobria-o manchando sua clareza. Fabiana e Juliana foram passear, descansar um pouco da vida, dos incômodos, do trabalho, das pessoas e suas falsidades, foram distanciando-se dos barulhos dos carros, das obrigações, as duas ficaram juntas, o tempo de boas lembranças como o voar no balanço, coisa infantil mas prazerosa, correr almejando entre o compasso a areia do mar, apreciar o lindo por do sol de Itapoan, sentir o bater dos ares nas entrelinhas da face e sentir que tudo valeu a pena, hoje ficaram mais outra vez uma ao lado da outra, adormeceram no Jardim da Saudade.

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