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Triste Aniversário Triste (contos)

                                            Jameson Brandão

Hoje estou muito feliz, estou completando mais um ano de vida, sabe, onde moro é difícil chegar na minha idade, sem se relacionar com drogas, se viciar, sabe como é né, as coisas em lugares que não tem nada para gerar renda, para se envolver basta sua mãe sair ou um colega, daqueles parça vim e te chamar prum negócio novo, oh mano, tu sabes que se é parça a gente não diz não e vai. Completei dezenove anos. Os presentes dos meus manos foram um pacotinho, tava até bonitinho, enrolado com papel de presente e tu custa acreditar que tinha até um laço, parecia presente pra mulher, mas sabe como é né, presente é presente, fiquei radiante, lembraram-se de mim, peguei, abrir e era o sal.
Estou com pressa, sai de onde estava não acreditando no que vi e ouvi. Tiago parceiro desde os cinco anos, André desde o fundamental e Rodrigo, praticamente nascemos juntos. Já estou meio decepcionado, o que houve com aqueles meninos, meus irmãos, tentei conversar mais afundo com eles, não eram os mesmos, perderam a alegria de viver, estão se confinando cada vez mais e eu não percebi isso, porque demorei pra enxergar, poderia tentar ajudar. Mente vazia só pode, deveria ter percebido quando Tiago deixou o fundamental, Rodrigo a faculdade e André não vi mais em lugar nenhum, acho que nem chegou no ensino médio.

Cheguei em casa e me assustei , tava nervoso e mainha eu acho que percebeu, já que logo depois do ‘surpresa!’ me perguntou se estava tudo bem, estava meio pálido. Disfarcei, eram os meus pais, minha irmãzinha, meus avos e alguns tios e primos, algo bem em família. Minha família é daquelas que dão presente uma vez no ano, e quando podem, por que juntam durante todo este período, economizando quanto pode, ganha pouco e as dividas são altas, mas com tanto esforço me deram um presente inesperado, seiscentos e cinquenta e cinco reais, pensei não posso aceitar, então me disseram que todos se juntaram e deram uma quantia, já que me viram iluminado quando passou um comercial na TV com a propaganda de uns celulares, aceitei. Imediatamente fui ao shopping, nem coloquei outra roupa, pra mim estava tudo normal. Não acompanho moda, muito mais tenho dinheiro pra comprar essas coisas caras, o dinheiro que ganho é suado, trabalho com meu pai, ele é pedreiro, então o que ganho com ele praticamente vai para o transporte publico e as apostilas da faculdade, ah estou no primeiro semestre, consegui passar no vestibular de medicina, muitos me olham de uma forma sei lá, parece nojo. Entrei no shopping, não me senti bem, já que os seguranças pareciam me vigiar, e quanto mais eu olhava, mais sinistro ficava a treta da situação. Encontrei a bendita loja que procurava, adentrei de imediato com medo, pressa, parecia até um fugitivo da policia pra eles, mas não sou, sei lá eles são da minha cor, mas mesmo assim me persegues, não sei o que se passa com eles, parece que foram a buteca da clinica e fizeram uma lavagem cerebral. Mas sabe como é que é né? Deixa pra lá.
Hoje foi mais rápido que os outros dias. Aquele homem. Pensei em cumprimentar, mas quando passei ele começou a conversar com uma moça alta, pele parecia seda, olhos negros, cabelos branco pele clara. Acho que ele tinha muito pra conversar com a dona, sei lá, por isso não me deu atenção de imediato, eu só queria ver uns celulares, me disseram que tinham lançado uns tais de segunda geração e que eram muito bons. Fui conferir é claro. Aguardei alguns minutos, não veio ninguém, acho que pensaram que eu não iria comprar, ai ignoram. Já ia embora, quando vi uma movimentação estranha dentro do shopping e as pessoas começaram a adentrar a loja, fiquei com medo, nunca presenciei essa situação, eram três caras armados, usavam algo preto no rosto, uma mascara talvez, acho que estavam drogados, se movimentavam de forma estranha, e vieram em direção da loja, vixe! Parece que vão assaltar, corri e tentei me esconder mas alguns seguranças me jogaram em direção a porta, fiquei uns quatro metros dos bandidos, um deles se assustou, tudo começou escurecer, mas antes em um segundo de silencio ouvi mas quatro tiros. Dois dias depois acordei em uma cama de Hospital, estava meio perturbado, não reconheci nem minha mãe, tentei me levantar, não consegui. Adormeci. Quando acordei estava dentro de um carro, minha família ao meu lado, pediu para eu ter calma e paciência, tudo ficaria bem, eu não entendia, mas, eles choravam, perguntei o que houve. Eu tinha algo no pulso me prendendo à cama, meu pai mais seguro de si, me perguntou, o que eu tinha ido realmente fazer naquele shopping, comprar o celular relatei, mas sei lá ele parecia não entender. Ele me relatou que naquele dia três caras tinham ido assaltar uma loja que vendia aparelhos de comunicação, um se chamava Tiago, outro Rodrigo e André, a policia noticiou tudo, saiu na teve e as coisas, ‘Quatro bandidos tentam assaltar loja e se dão mal’ eles foram mortos, eu ainda não me mexo corretamente, só os braços, e ninguém pelo que vejo vai dizer que eu não estava envolvido, querem um culpado, agora restou pra mim.

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